quarta-feira, 3 de agosto de 2011

ORIENTAÇÃO PARA ENVELHECER SEM PERDER A BOA FORMA

Graças aos personal trainers, muitos idosos estão conseguindo reduzir os problemas de saúde e melhorar o bem-estar físico e mental. Aos 60 anos, o designer Yury Albrecht costuma ouvir de muitos que não aparenta estar na terceira idade. Os amigos e até o irmão, dez anos mais novo, costumam ficar para trás quando ocorrem comparações sobre quem tem a melhor forma física e conseguiu “despistar” a idade. Para que se faça justiça, no entanto, é preciso dar os créditos também ao educador físico Welington Miqueletto [CREF 010863-G/PR], que há nove anos é personal trainer de Albrecht.

Frequentador assíduo de academias há duas décadas, o designer resolveu buscar atendimento personalizado após notar que, com o passar da idade, o rendimento nas atividades físicas começava a diminuir, ao mesmo tempo em que as dores na coluna incomodavam.

“Casamento”

Durante esse tempo, Albrecht desenvolveu com Miqueletto uma relação que os dois, com bom humor, chamam de “uma espécie de casamento”: além de dosar os exercícios de acordo com o perfil e a idade do aluno, o personal serve como conselheiro e tem a liberdade de fazer cobranças. 
“Com a ajuda dele, eu tenho mais chances de chegar à quarta idade”, brinca Albrecht.
Essa relação personalizada, semelhante àquela desenvolvida com médicos de confiança, tem conquistado cada vez mais a terceira idade – um público com tempo e dinheiro para fazer esse investimento. O nível de atenção dado aos alunos é um diferencial importante. Como muitos idosos começam a realizar atividades físicas por conta de uma doença, conhecer de perto o cliente, saber suas limitações e de quais exercícios ele mais necessita é fundamental.
“Muitos idosos que chegam a nós nunca praticaram atividades físicas, e vêm com uma série de patologias, como hipertensão, problemas musculares e cardíacos, logo, necessitam de um atendimento diferenciado que nem sempre um professor de academia pode oferecer, já que cuida de muitos alunos ao mesmo tempo”, diz o personal trainer Eduardo Colmanetti, que atua em Ribeirão Preto (SP) e é especialista em terceira idade.

Paciência

Desde que contratou os serviços de um personal trainer, há 9 meses, a professora aposentada Maria Laíse Crema Ramos, 68 anos, só deixou de ir às aulas, no Parque Barigui, por conta de viagens – com o “perdão” do professor, o educador físico Rafael Macedo. O rendimento e o bem-estar conquistados por ela e o marido, o engenheiro elétrico aposentado Luiz Fernando Ramos, 65 anos, são visíveis.

A labirintite, a pressão alta e as dores nas costas de Laíse foram aplacadas, e Luiz Fernando, que mal conseguia abaixar-se para entrar no carro, hoje realiza qualquer movimento com desenvoltura. Isso porque Macedo pensou em exercícios chamados funcionais, que ajudam o casal nas atividades do dia a dia. A pedido de Laíse, o professor pensou até em exercícios específicos para quem joga tênis, um de seus hobbies preferidos.

A aposentada, que frequentou academia por vários anos, destaca a importância de qualquer atividade física, mas diz que o diferencial são os exercícios específicos, a paciência do professor e a oportunidade de se exercitar ao ar livre, além da confiança que se cria entre professor e aluno. “Ele tem muita paciência conosco, e isso é muito importante, um ‘algo a mais’”, avalia.
Para Rafael Macedo, que atende sete alunos com mais de 60 anos, esse é o público com o qual é mais fácil de trabalhar, pelo valor que os idosos dão à saúde. “Um jovem, em geral, procura o serviço pela questão estética, e quando alcança o objetivo, vai embora. Já o idoso sabe da importância e da necessidade de preservar a saúde, é mais estável, o que permite um planejamento a longo prazo por parte do personal trainer”, observa.

O personal trainer Welington Miqueletto concorda. “Eles aceitam os conselhos e as cobranças. Não acham ruim, ao contrário, pois são maduros e estão preocupados com a saúde e com o amanhã”, elogia. O aluno Yury conclui: “Além de melhorar a saúde, melhora o ânimo, o emocional. Eu digo que é uma terapia, principalmente para o idoso, que não pode ficar parado.”

Exercícios devem ter limites

A partir dos 30 anos, o ser humano costuma perder cerca de 1% da massa corpórea total a cada ano. Isso explica porque quem já passou dos 60 anos – em especial os que estão acima dos 70 – costumam sofrer mais quedas. O peso do esqueleto é o mesmo, mas o “material” que o suporta, a massa muscular, diminui, causando o desequilíbrio.

Nesse caso, além de praticar atividades aeróbicas, como caminhadas e danças, é preciso trabalhar e fortalecer os músculos. A atividade não tem como fim maior ganhar músculos, mas antes de tudo manter o que pode ser perdido caso a pessoa adote uma vida sedentária. É preciso, no entanto, tomar cuidados, já que os alunos normalmente apresentam doenças típicas dessa faixa etária, o que exige monitoramento praticamente toda vez que o exercício é feito.

Prescrição

A prescrição de exercícios depende de cada pessoa, logo, a intensidade e o tipo de atividade variam, mas, em geral, pessoas que apresentam problemas na coluna devem evitar exercícios de im­­pacto, como corridas, basquete e saltos, e quem tem pressão alta deve maneirar na intensidade das atividades de tração, como a musculação, evitando exercícios com muito peso que aumentem a pressão, ou muito intensos, que aumentem a frequência cardíaca.

De acordo com o educador físico Eduardo Colmanetti, especializado em terceira idade, os exercícios mais indicados são aqueles que trabalham várias partes do corpo, como ombros, tríceps e peitoral, além de coxas, pernas e joelho e que consigam ativar um maior número de fibras musculares, importantes para aprimorar a coordenação motora, a resistência e a flexibilidade.

ORIENTE-SE

O personal trainer e membro do Conselho Regional de Educação Física do Paraná (Cref-PR) Rafael Strugale [CREF 004397-G/PR] orienta a escolha de um bom profissional:
- Para exercer a função de personal trainer, o profissional precisa ter bacharelado em Educação Física, ou, no caso de possuir apenas a licenciatura, ele deve estar autorizado a exercer a atuação plena, denominação que consta em sua cédula de identidade profissional.
- O personal deve estar cadastrado no Cref da área onde atua. Para se certificar, peça a cédula de identidade profissional ou acesse o site www.confef.org.br e digite o nome da pessoa em questão no espaço localizado no canto superior direito da tela.
- Dê preferência à indicação de amigos e de outros profissionais e converse com o personal trainer antes de contratar o serviço. Por ser um atendimento personalizado e mais próximo do que aquele estabelecido com professores de academia, é preciso haver afinidade e as metas devem ficar bem claras. “Os objetivos devem ser os mesmos, e é preciso haver comprometimento e um bom relacionamento para que o trabalho funcione”, diz Strugale.

Melhor idade não é desculpa para ficar parado

A geriatra Ivete Berkenbrock, membro da seção paranaense da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, lembra que a idade não é desculpa para ficar parado. “Independentemente da idade e da condição física, sempre haverá uma atividade que poderá ser realizada, com a frequência, dimensão e amplitude adequadas, e com profissionais que tenham o conhecimento adequado da fisiologia do envelhecimento e das condições do idoso”. Ou seja, se a doença está controlada, fazer exercício é mais do que possível – é necessário.

O cardiologista e diretor do Hospital Cardiológico Costantini, em Curitiba, Costantino Cos­tan­tini, explica que a atividade física é importante por uma série de fatores: causa a liberação do hormônio endorfina, responsável pela sensação de prazer e bem -es­­tar, muito importante para evitar a depressão, doença recorrente na velhice. Também combate a obesidade – que pode causar diabete tipo 2, infarto e hipertensão – e melhora a atividade cardiorrespiratória.
 
O médico, no entanto, alerta para a importância do controle clínico, e de se fazer um check-up anual. “Isso é imprescindível, in­­dependentemente do exercício que o idoso faz, e onde ele faz, em academia, com personal trainer, na rua. E o cuidado com o coração é muito importante. Acompa­nha­mento cardiológico é obrigatório. Toda atividade física, ainda mais nessa idade, deve ter prescrição médica”, observa. 
 
Fonte: Gazeta do Povo